Os faróis da minha praia

Murilo Cepellos
3 min readJul 24, 2020

Seis anos atrás enquanto voltava do trabalho eu decidi que queria ser livre. Não sabia o que queria, exatamente, mas perseguia aquela sensação como se fosse a única razão por ter vindo ao mundo. Que chato seria se só existisse uma razão.

Essa palavra fez tanto sentido um dia. Parecia certo. Parecia pra mim. Livre para ser o que quiser, fazer o que quiser, gostar, beijar, viver. Gritava pra todo mundo ouvir, mesmo que ninguém tivesse interessado em escutar.

Liberdade: Nível de independência absoluto e legal de um indivíduo, de uma cultura, povo ou nação. Estado ou particularidade de quem é livre; característica da pessoa que não se submete.

Naquela mesma rua, alguns anos depois, admiti estar preso, de tal forma que nenhuma das afirmações acima faziam o menor sentido. Todos avisavam, eu sabia, mas não fazia diferente. E foi preciso um vendaval pra mudar um pouco de lugar as coisas que já estavam amontoadas como quem quer ficar pra sempre. E se você deixar, elas ficam.

Quando você se encontra em tal posição, da submissão e da inexistência de escolha, é possível que você chore toda noite. Tenha convicção de que não é feliz. Mas nem isso é capaz de te fazer mudar. Você tem medo, tem vergonha, e de certa forma se acostuma. Te soa familiar. Mas qualquer luz pela janela te lembra como é bonito lá fora.

Ao romper essa barreira, a sensação de estar completamente perdido é inevitável. Anos seguindo um protocolo com um bloqueio para tudo que fugisse do cenário perfeito. Dias e dias sem saber pra onde ir. E como é bom encontrar quem te dá a direção.

Tenho pra mim que os melhores conselhos não são ditos. São absorvidos por osmose. Parece doideira, mas de tanto conviver com alguém que te inspira, aos poucos você empresta um pouco daquela magia toda pra você. Não tô dizendo pra virar sanguessuga de energia. Não é sobre tirar de alguém, mas desenvolver em si mesmo um pouco do que te impressiona no outro.

Eu tive alguns faróis, mas dois em especial vão seguir pra sempre me guiando de longe. Vinham de outro lugar, muito diferente do meu. Falavam diferente, e agiam mais diferente ainda, de um jeito que me impressionava.

Desde o primeiro dia me acolheram, e me levaram pra comer uma comida sem gosto que eu fingi que adorei só pra vê-las feliz. E foi com elas que eu aprendi que eu não precisava mais fingir.

É engraçado como parece que as coisas acontecem no seu devido tempo e espaço, milimetricamente calculado por uma autora que sabe que pra personagem aprender, ela precisa passar por todo esse caminho. Mas mesmo que ela planeje cada vírgula, sempre vai depender desse primeiro passo. Que rapidinho se tornou um convite pra correr juntos, todos os dias, sem medo nenhum.

Cada recomeço que eu assisti, cada vitória que acompanhei e cada história que ouvi me fizeram entender um pouco mais sobre essa viagem MALUCA que a gente tem pela frente todo dia quando acorda de manhã.

E eu espero que todo mundo encontre pelo caminho gente que te mostre a direção. Que te deixe de queixo caído pensando “como essa pessoa é incrível”. Que te faça querer ser assim quando crescer. Porque quando a gente segue sozinho nem sempre dá pra advinhar pra onde ir. Mas quando alguém te pega pela mão, você se sente mais forte. E mesmo que continue sem saber pra onde ir, você vai.

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